Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Localização: Lisboa, Portugal

Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

sexta-feira, abril 23, 2010

coração parado.

deu-se conta, na noite passada, que o seu coração deixara de bater.
por ele. por nada.
no movimento brusco e desmesurado do combóio que sentia a entrar num túnel fechado
desligou-se do hábito que trajava para, de seguida, envergar apenas um lençol.
deitara-se ainda com uma lembrança do cheiro a colónia natural que lhe adocicava o tronco,
mas logo logo se apercebera de que o seu coração parara!

pelas tantas da madrugada, um desconhecido batera-lhe à porta.
sonhava que lhe tinha trazido um sopro, um gemido, talvez um rebento de cravo
transvestido de uma cor exótica. adormecera.
parara.

luto feito, terminou de bordar o manto com que se tapara.
prometera-lhe que o enterraria junto da árvore situada no meio do laranjal. por nada.
por ele. parara.
avança agora na noite escura, pintando sonhos cor de marfim. quase tudo o que conquistara
se desvaneceu na bruma de uma solidão procurada...

quarta-feira, abril 14, 2010

diamante ou túlipa...

negra sou. rara!
inquieta talvez, difícil de integrar.
não consegues desvendar-me. compreendo-te o grito
que gostarias de poder dar.

distrais a dor que não suportas.
o silêncio, de tão puro, desconcentra-te.
perdes-te. rodopias em notas soltas na esfera
desconcertante. perfeita? desfeita.
iludes-te. esfomeado que estás do brilho alheio
negas a tua opacidade.
......................................................................
mentiroso.
despeitado.
obrigas-me a condescender-te.
imbecil, desnaturado. vingativo, desmesurado.
frustra-te enquanto eu, durmo compassivamente
nas cores de um arco íris duplo.

sábado, abril 10, 2010

mas...

"...acende um cigarro que apaga logo a seguir... prometeu a si mesma que jamais o faria, mesmo sem ter motivo para tal! Mais fácil seria se amasse como outrora, mas...!

há sempre um mas antes de todas as coisas! antes da certeza que esperava ter algures de que valeria a pena ficar assim, sem vícios, sem calamidades, isenta de todas as imperfeições que fazem dela motivo de decepção.

decepciona-se a si própria, ou talvez tente convencer-se de que num lugar qualquer, mais lá para o fim do tempo, existe alguém que lhe sustente o sentido que a vida, entretanto suspensa, lhe roubou de novo.

justifica-se com a des-sorte. não consegue evitar de se lamentar por ter comprado de novo, um pacote de cigarros. acende um que apaga logo a seguir... prometeu a si mesma que a promessa que jurou seria motivo suficiente para não voltar a tocar no assunto, mas...!

há sempre um mas qualquer que justifica um impulso. um desejo impronunciado. uma fraqueza, diz-se a si mesma. releva-se, descontrai-se. escreve.

evita dar sequência ao que a memória lhe traz. mas... lembra-se de quando em vez do último que fumou inteiro, até ao filtro. fumáva-os sempre até ao filtro. agora é a vida que a fuma. ela apagou-o desta vez. não o fumará inteiro, nem até ao fim. em nome da memória. em nome da terra mãe. do presente desalojado de futuro. mas... mesmo assim."