A cabra secreta.
Ás vezes é nas coisas mais simples e despretenciosas que encontramos os melhores desvelamentos de partes substanciais da "verdade" das coisas, que todos procuramos há séculos.
No último Domingo, no passeio matinal ao supermercado lá da zona, e depois de ter o carrinho das compras meio-cheio, decidi tentar fazer alguma coisa outra para tornar aquela viagem mais agradável e útil. Fui então, antes de ir directamente para a caixa, dar uma vista de olhos ás prateleiras onde repousam as habituais revistas femininas, os jornais diários e semanais e alguns livros ditos mais ligeiros (ou lights), considerados mais apropriados para serem vendidos nas superfícies deste género.
As notícias da actualidade, já as tinha lido no dia anterior; os novos habitantes da Quinta da Baracha, já os conhecia das manchetes e das capas de algumas revistas; o Código da Vinci e o livro de José Gil (que agradavelmente vi exposto no escaparate da entrada daquela zona) já os tinha lido há tempos, de maneira que a escolha estava realmente reduzida ao mínino. Mas, eis que, em conformidade do espaço em questão, me surge à frente do nariz um título que me chamou à atenção: "Descubra a Cabra Secreta que há em si". Pequei-lhe de imediato, folheei-o com alguma gula e levei-o comigo para a caixa com vontade de o começar a ler logo ali.
Ficar-me-ia bem se dissesse que o comprei para o abordar criticamente. Seria porventura mais correcto, se dissesse que o trouxe porque me interesso pelas questões das mulheres, pelos estudos do género. Certamente seria mais abonatório para mim enquanto investigadora das Ciências Sociais e Humanas. Mas não. Na verdade, apetecia-me rir naquele dia, divertir-me com algo leve e simples, apenas.
Chegada a casa, e por influência do bendito livro, arrumei as compras depressa nos armários respectivos e sentei-me na sala, como quem descansa um pouco, a lê-lo descaradamente. Fumei alguns cigarros e num ápice, tinha chegado ao fim. Ri-me imenso pelo caminho, uma vez que o livro em questão é realmente divertido, bem humorado, ligeiro como uma boa salada de frango e frutas acompanhada de uma taça de vinho verde fresco.
Estava cumprida a hora do descanso da guerreira, pensava eu. Porém, o seu conteúdo é de tal forma "light" que se me tornou claríssimo na mensagem que, creio, pretende passar. Acho até que, em poucas páginas e palavras quanto baste, diz aquilo que muitos investigadores sérios e credíveis, não têm a goragem de dizer, por saberem que é essa a "verdade". E aí, o meu descanso desapareceu, dando lugar ao frenesim que me ataca por vezes. Aquele que me faz pensar, reflectir e ter vontade de escrever sobre todas as coisas que me aparecem à mente como motes interessantes. Fui, portanto, catapultada para o lugar onde de facto me costumo cansar com prazer.
O livro fala de mulheres, particularmente do que se poderia chamar "o lado obscuro" das mulheres. Fala das suas simpatias forçadas; das obrigações não escolhidas que carregam aos ombros; dos silêncios a que as suas vozes estão votadas. Que vozes? As vozes da ambição, da sexualidade, do poder, da liberdade, do orgulho. Das únicas vozes que fazem ou poderão fazer delas, verdadeiras mulheres.
Por via de um nome/adjectivo nem sempre bem acolhido quer por homens, quer por mulheres - o de cabra - a autora (Elisabeth Hilts) tenta alertar as mulheres para aquilo que, em abono da verdade, faz de uma mulher um ser humano digno desse nome, ou pelo contrário, uma mera bonequinha de luxo, um adorno, um trapo sem graça, um ser sem alma.
Assim, e de uma forma absolutamente descontraída, Elisabeth Hilts recomenda às suas leitoras coisas como estas:
- Deixem de ser simpáticas, apenas porque sim. Não se privem de salgar a vossa vida, em vez de terem sempre o açucar à mão para por em tudo;
- Deixem de dizer que sim ao que não querem. Em vez disso, coloquem o "não me parece" como reposta substitutiva pronta, e vão ver que nem por isso a vossa elegância ou boa educação sofre danos, com a mais valia de se chatearem menos.
- Deixem de se privar de terem amigas, só porque são mulheres e as mulheres não se dão bem umas com as outras. No lugar da simpatia falsa, coloquem sem reservas a empatia e a cumplicidade que nos une a todas.
- Deixem de se vestir de cor-de-rosa. Assumam o vermelho, as riscas (mesmo que horizontais), os decotes que as mostram belas e sedutoras, o preto que as torna irresistíveis.
- Deixem de fingir orgasmos. Em vez disso, não percam as ocasiões em que possam ser felizes e ter prazer à séria.
- Juntem aos batôns e blushes que sempre levam nas carteiras de mão, preservativos coloridos e com sabores.
- Deixem os romances insípidos, as revistas de conselhos inúteis. Parem de docorar mésinhas para emagrecer. Assumam-se como são, de corpo e alma.
- Cultivem-se, instruam-se, formem-se, graduem-se e assumam sem reservas as vossas competências técnicas e profissionais.
- Não fujam das oportunidades de poder que lhes surgirem, só porque são mulheres.
- Falem sempre do que pensam e como pensam.
Em suma, descubram e desvelem a "cabra que há em nós". Segundo Hilts "é uma parte de nós inteligente, confiante e digna que sabe muito bem o que quer. Diz-nos para não aceitarmos menos do que nos é devido. E avisa-nos quando estamos prestes a embarcar em comportamentos derrotistas", ou, acrescente-se, no excesso de "toximpatia".
Acho que tenho definitivamente andado a encontrar a cabar que há em mim. Adoro-a. E Vocês? Sabem da vossa?
No último Domingo, no passeio matinal ao supermercado lá da zona, e depois de ter o carrinho das compras meio-cheio, decidi tentar fazer alguma coisa outra para tornar aquela viagem mais agradável e útil. Fui então, antes de ir directamente para a caixa, dar uma vista de olhos ás prateleiras onde repousam as habituais revistas femininas, os jornais diários e semanais e alguns livros ditos mais ligeiros (ou lights), considerados mais apropriados para serem vendidos nas superfícies deste género.
As notícias da actualidade, já as tinha lido no dia anterior; os novos habitantes da Quinta da Baracha, já os conhecia das manchetes e das capas de algumas revistas; o Código da Vinci e o livro de José Gil (que agradavelmente vi exposto no escaparate da entrada daquela zona) já os tinha lido há tempos, de maneira que a escolha estava realmente reduzida ao mínino. Mas, eis que, em conformidade do espaço em questão, me surge à frente do nariz um título que me chamou à atenção: "Descubra a Cabra Secreta que há em si". Pequei-lhe de imediato, folheei-o com alguma gula e levei-o comigo para a caixa com vontade de o começar a ler logo ali.
Ficar-me-ia bem se dissesse que o comprei para o abordar criticamente. Seria porventura mais correcto, se dissesse que o trouxe porque me interesso pelas questões das mulheres, pelos estudos do género. Certamente seria mais abonatório para mim enquanto investigadora das Ciências Sociais e Humanas. Mas não. Na verdade, apetecia-me rir naquele dia, divertir-me com algo leve e simples, apenas.
Chegada a casa, e por influência do bendito livro, arrumei as compras depressa nos armários respectivos e sentei-me na sala, como quem descansa um pouco, a lê-lo descaradamente. Fumei alguns cigarros e num ápice, tinha chegado ao fim. Ri-me imenso pelo caminho, uma vez que o livro em questão é realmente divertido, bem humorado, ligeiro como uma boa salada de frango e frutas acompanhada de uma taça de vinho verde fresco.
Estava cumprida a hora do descanso da guerreira, pensava eu. Porém, o seu conteúdo é de tal forma "light" que se me tornou claríssimo na mensagem que, creio, pretende passar. Acho até que, em poucas páginas e palavras quanto baste, diz aquilo que muitos investigadores sérios e credíveis, não têm a goragem de dizer, por saberem que é essa a "verdade". E aí, o meu descanso desapareceu, dando lugar ao frenesim que me ataca por vezes. Aquele que me faz pensar, reflectir e ter vontade de escrever sobre todas as coisas que me aparecem à mente como motes interessantes. Fui, portanto, catapultada para o lugar onde de facto me costumo cansar com prazer.
O livro fala de mulheres, particularmente do que se poderia chamar "o lado obscuro" das mulheres. Fala das suas simpatias forçadas; das obrigações não escolhidas que carregam aos ombros; dos silêncios a que as suas vozes estão votadas. Que vozes? As vozes da ambição, da sexualidade, do poder, da liberdade, do orgulho. Das únicas vozes que fazem ou poderão fazer delas, verdadeiras mulheres.
Por via de um nome/adjectivo nem sempre bem acolhido quer por homens, quer por mulheres - o de cabra - a autora (Elisabeth Hilts) tenta alertar as mulheres para aquilo que, em abono da verdade, faz de uma mulher um ser humano digno desse nome, ou pelo contrário, uma mera bonequinha de luxo, um adorno, um trapo sem graça, um ser sem alma.
Assim, e de uma forma absolutamente descontraída, Elisabeth Hilts recomenda às suas leitoras coisas como estas:
- Deixem de ser simpáticas, apenas porque sim. Não se privem de salgar a vossa vida, em vez de terem sempre o açucar à mão para por em tudo;
- Deixem de dizer que sim ao que não querem. Em vez disso, coloquem o "não me parece" como reposta substitutiva pronta, e vão ver que nem por isso a vossa elegância ou boa educação sofre danos, com a mais valia de se chatearem menos.
- Deixem de se privar de terem amigas, só porque são mulheres e as mulheres não se dão bem umas com as outras. No lugar da simpatia falsa, coloquem sem reservas a empatia e a cumplicidade que nos une a todas.
- Deixem de se vestir de cor-de-rosa. Assumam o vermelho, as riscas (mesmo que horizontais), os decotes que as mostram belas e sedutoras, o preto que as torna irresistíveis.
- Deixem de fingir orgasmos. Em vez disso, não percam as ocasiões em que possam ser felizes e ter prazer à séria.
- Juntem aos batôns e blushes que sempre levam nas carteiras de mão, preservativos coloridos e com sabores.
- Deixem os romances insípidos, as revistas de conselhos inúteis. Parem de docorar mésinhas para emagrecer. Assumam-se como são, de corpo e alma.
- Cultivem-se, instruam-se, formem-se, graduem-se e assumam sem reservas as vossas competências técnicas e profissionais.
- Não fujam das oportunidades de poder que lhes surgirem, só porque são mulheres.
- Falem sempre do que pensam e como pensam.
Em suma, descubram e desvelem a "cabra que há em nós". Segundo Hilts "é uma parte de nós inteligente, confiante e digna que sabe muito bem o que quer. Diz-nos para não aceitarmos menos do que nos é devido. E avisa-nos quando estamos prestes a embarcar em comportamentos derrotistas", ou, acrescente-se, no excesso de "toximpatia".
Acho que tenho definitivamente andado a encontrar a cabar que há em mim. Adoro-a. E Vocês? Sabem da vossa?
2 Comments:
"Descubra a Mulher que há em si" deveria ter sido o nome do livro, mas claro que "cabra secreta" vende muito mais...
De qualquer forma é uma pena que no século XXI, ainda se vendam livros sobre o direito das Mulheres a Viver em toda a plenitude.
Mas pelos vistos ainda é necessário esse tipo de livros, o que é uma pena.
Será que alguma mulher já anda com preservativos com sabores :p hehehehehhe...
Adorei como sempre o texto ;-)
Confesso, que já vi esse título por aí... Mas não comprei.
Confesso, que agora fiquei curiosa e vou já na próxima saída procurá-lo.
Confesso que é óptimo lê-la... e eu que só vinha numa visitinha tipo... visita de médico, deixar as amêndoas...
Abraço. ;-)
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