Cinestesia.
A terra mexeu de novo e ao fundo da rua ouviram-se os sinos a tocar a repique dando sinal de alarme. A população levantou-se apressada: mãos no ar, uns; mãos nas calças, outros; mãos à cabeça, ai que deus nos acuda, outros ainda.
Mãos.
Pernas escorreitas corredores afora, tropeçando pouco, vão na direcção das portas da rua olhar a noite e o céu e perguntar ao luar que raio de barulho foi aquele. Tá tudo maluco, é o que é.
Escutaram-se tilintares cristalinos e sons metalizados vindos de dentro dos habitáculos amadeirados que guardam as relíquias de família. Os pés dos copos, quais sapatos de salto agulha, balançam ainda inquietos na tentativa de se manterem firmes; as travessas de porcelana da china esfregam-se umas nas outras em busca de um aconchego, que é o que lhes resta, antes de se estatelarem no chão; o saleiro já desmaiou há muito, o que vale é que estava vazio. Talheres de prata fina romperam a tampa da caixa forrada a veludo e desfilam em direcção ao sofá maior. Está tudo em exposição, a jeito de entrar no turno que é como quem diz, ao serviço, não fosse tudo culpa do terramoto que quase ía havendo e dando cabo das restantes maravilhas do mundo.
Foram segundos, poucos.
De repente, tudo passou e dir-se-ia que nem deu tempo a que se partisse grande coisa. Menos ainda que morresse gente, que se abatessem terras ou que caíssem árvores. Caíram as cortinas e ficou apenas e só o autor...
Mãos.
Pernas escorreitas corredores afora, tropeçando pouco, vão na direcção das portas da rua olhar a noite e o céu e perguntar ao luar que raio de barulho foi aquele. Tá tudo maluco, é o que é.
Escutaram-se tilintares cristalinos e sons metalizados vindos de dentro dos habitáculos amadeirados que guardam as relíquias de família. Os pés dos copos, quais sapatos de salto agulha, balançam ainda inquietos na tentativa de se manterem firmes; as travessas de porcelana da china esfregam-se umas nas outras em busca de um aconchego, que é o que lhes resta, antes de se estatelarem no chão; o saleiro já desmaiou há muito, o que vale é que estava vazio. Talheres de prata fina romperam a tampa da caixa forrada a veludo e desfilam em direcção ao sofá maior. Está tudo em exposição, a jeito de entrar no turno que é como quem diz, ao serviço, não fosse tudo culpa do terramoto que quase ía havendo e dando cabo das restantes maravilhas do mundo.
Foram segundos, poucos.
De repente, tudo passou e dir-se-ia que nem deu tempo a que se partisse grande coisa. Menos ainda que morresse gente, que se abatessem terras ou que caíssem árvores. Caíram as cortinas e ficou apenas e só o autor...
7 Comments:
um mistério diferente habita a tua imaginação. uma espessura diferente tridimensionaliza o que já era prosa e se torna cada vez mais discurso. um equilíbrio que faltava parece agora dominar o pensamento que cria. gosto de contemplar a metamorfose que por aqui se vai descrevendo. beijinho. J.
OI?
Olá Azul!
Como está?
Escreve cada vez melhor, há uma transformação a cada texto seu, é como diz o r.e, há mais equilíbrio.
O autor merece palmas.
um beijo
Amiga Azul:
Os seus textos estão a ganhar a consistência (ou o paladar) que tão bem sabe a quem como eu os lê com a regularidade de há muito. Temperados com a sensibilidade de que fala no título deste, só um inimigo das letras ordenaria o regresso ao lume da criatividade sem o ler. É muito bom regressar de férias e ser recebido com este manjar. Banqueteei-me... sem tremer.
Um beijo à autora.
Um óptimo fim de semana prolongado para si Azul.
Beijo amigo.
Que se passa consigo amiga Azul?! Não pretendo ser indiscreto mas a sua prolongada ausência retira-me o prazer de uma leitura a que me fui habituando com alguma regularidade. Espero, além do mais, que esteja tudo bem consigo.
Beijo amigo.
Há já alguns anos que um fenómeno desta natureza é esperado para a nossa zona. Eu até acho que é bem vindo! Parece-me que estamos todos a precisar de um valente estremeção, não acha?
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