Diário de uma festa à portuguesa.
7h.
Mal se consegue perceber ainda o brilho dos olhos do Sol e já ecoam pelos ares os estalos estridentes dos foguetes, anunciando a alvorada. São eles os verdadeiros reis destes dias festivos.
A Banda Filarmónica forma na Praça para, de seguida, percorrer todas as ruas e becos, mesmo os sem saída, visitando quem lá mora e traçando ao som de marchas vigorosas o convite geral para o Concerto de logo à noite. O repertório está de gritos e o Maestro que estreia hoje é o rapaz lá da terra – aquele que foi estudar para Lisboa para ser um verdadeiro artista.
Aqui e ali servem-se bolos com Vinho do Porto aos músicos, dão-se gargalhadas bem dispostas e distribuem-se cumprimentos generosos aos que apenas vêm à janela, por vezes ainda em pijama.
Mais abaixo, na Igreja, continuam os preparativos para a procissão – momento alto da tarde. Pulverizam-se as flores que adornam os andores pela última vez para que se mantenham viçosas, e entregam-se as capas e as bandeiras bem engomadas aos seus futuros portadores.
10h.
A azáfama das senhoras benfeitoras é admirável, assim como a dos homens que, com energia e determinação, acarretam grades de cerveja, sumos e águas para reabastecer o bar esvaziado na noite anterior. Cadeiras de plástico e mesas improvisadas com tábuas de madeira velha andam de um lado pró outro, completando o cenário.
Renova-se também o stock de presentes absolutamente maravilhosos que estarão disponíveis na Quermesse a troco de meia dúzia de tostões e de um pouco de paciência no desenrolar das rifas em busca do número da sorte.
Há canecas pró leite, gatos de porcelana, bonecas de loiça antiga. Carrinhos de linhas de todas as cores, caixas da Tupperware, livros e velas e molduras de plástico. Vasos para flores, colares e envelopes de cheiro, naperons de renda, bibelots. Caixas para jóias e tantas outras coisas dignas de fazer inveja a qualquer feira da ladra.
Passa-se a vistoria final às cordas que, presas nos postes da luz, servem de suporte às bandeirolas coloridas que enfeitam toda a aldeia e anunciam a quem lá passe de passagem que é dia de Festa.
13h.
À hora do almoço sobram tachos de arroz de coelho, tabuleiros de lombo assado em fornos de lenha, cestos de pão caseiro e tigelas de leite creme queimado na hora e arroz doce. O vinho é à vontade em todas as casas. Reina a alegria.
Os músicos descansam à sombra. Alguns jogam às cartas, enquanto outros dormem a sesta ou namoram nos bancos do jardim, até perto das 4 da tarde. A manhã foi longa para eles e ainda vão ter de caminhar muito atrás do Santo Padroeiro.
16h.
Colchas crocheteadas ou bordadas devagarinho nas noites de chuva, ao pé das braseiras, começam a esvoaçar nos parapeitos das varandas e muitos vestidos novos saem para a rua na direcção do Templo. A missa começa com atraso, há gente de pé. Ninguém quer perder a oportunidade de homenagear o Santo protector e menos ainda de se mostrar tão bonito e bem disposto.
O homem do bombo toca para a formatura. Está na hora de avançar, já veio avisar o director da comissão de festas.
Colocam-se as estantes nos instrumentos – quem as tem ou precisa delas, há quem toque de cor – e toca a marchar a preceito avenida acima que a procissão não tarda a sair.
Andores, bandeiras, promessas em forma de anjinhos, Santas Teresinhas e outros santinhos, ou simplesmente devotos organizam-se rapidamente numa parada regular e prosseguem em marcha lenta, ao som da “Senhora da Saúde”, rua acima, rua abaixo. Rolam as contas dos terços pelos dedos discretos, cantam-se os cânticos de sempre. Pede-se Paz e Amor e outras coisas que são segredo. Pagam-se dívidas. Algumas de gratidão.
18h.
Mãos sábias misturam-se com as carnes bem temperadas, marinadas em vinha d’alhos desde ontem, numa derradeira aventura dos sentidos. As imensas frigideiras emprestadas já fervilham no calor da fogueira que se acendeu de propósito para acolher as febras, as iscas, os couratos, e tantas outras delícias para encher o pão e a barriga dos gulosos e dos apreciadores daqueles petiscos. Regressa a Banda. Vão jantar porque daqui a nada, é preciso a máxima concentração. O concerto aproxima-se, e com ele o recomeço da alegria. È que a seguir ao 1812 tocado a preceito com bombardeamento e tudo, estará a postos a cantora da moda para animar até às tantas os seus fãs e todos o que gostam de dançar a valer.
(Este post é dirigido ao meu amigos e leitores assíduos Castor e Mocho. O meu muito obrigada pelo vosso carinho. Beijo para os dois.)
Mal se consegue perceber ainda o brilho dos olhos do Sol e já ecoam pelos ares os estalos estridentes dos foguetes, anunciando a alvorada. São eles os verdadeiros reis destes dias festivos.
A Banda Filarmónica forma na Praça para, de seguida, percorrer todas as ruas e becos, mesmo os sem saída, visitando quem lá mora e traçando ao som de marchas vigorosas o convite geral para o Concerto de logo à noite. O repertório está de gritos e o Maestro que estreia hoje é o rapaz lá da terra – aquele que foi estudar para Lisboa para ser um verdadeiro artista.
Aqui e ali servem-se bolos com Vinho do Porto aos músicos, dão-se gargalhadas bem dispostas e distribuem-se cumprimentos generosos aos que apenas vêm à janela, por vezes ainda em pijama.
Mais abaixo, na Igreja, continuam os preparativos para a procissão – momento alto da tarde. Pulverizam-se as flores que adornam os andores pela última vez para que se mantenham viçosas, e entregam-se as capas e as bandeiras bem engomadas aos seus futuros portadores.
10h.
A azáfama das senhoras benfeitoras é admirável, assim como a dos homens que, com energia e determinação, acarretam grades de cerveja, sumos e águas para reabastecer o bar esvaziado na noite anterior. Cadeiras de plástico e mesas improvisadas com tábuas de madeira velha andam de um lado pró outro, completando o cenário.
Renova-se também o stock de presentes absolutamente maravilhosos que estarão disponíveis na Quermesse a troco de meia dúzia de tostões e de um pouco de paciência no desenrolar das rifas em busca do número da sorte.
Há canecas pró leite, gatos de porcelana, bonecas de loiça antiga. Carrinhos de linhas de todas as cores, caixas da Tupperware, livros e velas e molduras de plástico. Vasos para flores, colares e envelopes de cheiro, naperons de renda, bibelots. Caixas para jóias e tantas outras coisas dignas de fazer inveja a qualquer feira da ladra.
Passa-se a vistoria final às cordas que, presas nos postes da luz, servem de suporte às bandeirolas coloridas que enfeitam toda a aldeia e anunciam a quem lá passe de passagem que é dia de Festa.
13h.
À hora do almoço sobram tachos de arroz de coelho, tabuleiros de lombo assado em fornos de lenha, cestos de pão caseiro e tigelas de leite creme queimado na hora e arroz doce. O vinho é à vontade em todas as casas. Reina a alegria.
Os músicos descansam à sombra. Alguns jogam às cartas, enquanto outros dormem a sesta ou namoram nos bancos do jardim, até perto das 4 da tarde. A manhã foi longa para eles e ainda vão ter de caminhar muito atrás do Santo Padroeiro.
16h.
Colchas crocheteadas ou bordadas devagarinho nas noites de chuva, ao pé das braseiras, começam a esvoaçar nos parapeitos das varandas e muitos vestidos novos saem para a rua na direcção do Templo. A missa começa com atraso, há gente de pé. Ninguém quer perder a oportunidade de homenagear o Santo protector e menos ainda de se mostrar tão bonito e bem disposto.
O homem do bombo toca para a formatura. Está na hora de avançar, já veio avisar o director da comissão de festas.
Colocam-se as estantes nos instrumentos – quem as tem ou precisa delas, há quem toque de cor – e toca a marchar a preceito avenida acima que a procissão não tarda a sair.
Andores, bandeiras, promessas em forma de anjinhos, Santas Teresinhas e outros santinhos, ou simplesmente devotos organizam-se rapidamente numa parada regular e prosseguem em marcha lenta, ao som da “Senhora da Saúde”, rua acima, rua abaixo. Rolam as contas dos terços pelos dedos discretos, cantam-se os cânticos de sempre. Pede-se Paz e Amor e outras coisas que são segredo. Pagam-se dívidas. Algumas de gratidão.
18h.
Mãos sábias misturam-se com as carnes bem temperadas, marinadas em vinha d’alhos desde ontem, numa derradeira aventura dos sentidos. As imensas frigideiras emprestadas já fervilham no calor da fogueira que se acendeu de propósito para acolher as febras, as iscas, os couratos, e tantas outras delícias para encher o pão e a barriga dos gulosos e dos apreciadores daqueles petiscos. Regressa a Banda. Vão jantar porque daqui a nada, é preciso a máxima concentração. O concerto aproxima-se, e com ele o recomeço da alegria. È que a seguir ao 1812 tocado a preceito com bombardeamento e tudo, estará a postos a cantora da moda para animar até às tantas os seus fãs e todos o que gostam de dançar a valer.
(Este post é dirigido ao meu amigos e leitores assíduos Castor e Mocho. O meu muito obrigada pelo vosso carinho. Beijo para os dois.)
6 Comments:
tocam os sinos na torre da igreja
ha rosmaninho e.....kk koisa k ja nao me lmebro do resto.....ehehhe
the champ
alecrim pelo ar é o que lá falta não é?
lol
Obrigada pela visita. Azul.
Desculpem a intromissão, isto é dedicado a quem merece, e eu sou «pirata».
Olá, Azul, que grande "truque" tu fizeste agora. Deixaste-me com as penitas alvoraçadas; Não estava á espera de tamanha consideração até porque gosto muito de voar até aqui e de "esgravatar" na terra o milho que vais lançando. Eu sei que sou mocho mas sou trangénito e como de tudo (hi, hi, hi); Que grande festa revivi com o que escreveste; tal e qual as festas da aldeia da minha infãncia, quando os meus pais me levavam para Bragança em Agosto, em que os bem-feitores eram tambem pessoas que estavam fora das suas terras e que regressavam com os seus feitos para mostrar ao pessoal da aldeia. Bom fim de Semana e mais uma vez agradeço a tua lembrança. Fica bem.
Ó Azul!.. não me digas que nesta tua festa também fazem arrematações e penduram nas fitas dos andores, notas (que não de música) presas com alfinetes.... Rôda-se!... se assim for, às tantas ainda vamos a ver que andámos na mesma escola e que, no fundo, no fundo, ainda somos primos... afastados... ehe,ehe,ehe... e já agora... pagava-te uma bejeca pela tua consideração, mas como ainda não é possível (ainda não se consegue beber pelo computador), vou bebê-la eu... mas a agradecer-te... claro!!!
oi amigos mocho e castor. eu é que vos agradeço mais uma vez pelo carinho. Vejo pelos vossos comentários que vos ajudei a relembrar bons momentos vossos também. Fico feliz por isso.
Castor, não sei se seremos primos ainda, mas eu não me importava nada. Acredito que tenhamos a mesma escola... de vida nao é?
Quanto à bejaca, é verdade que não se bebem bejecas pelo computador, mas graças a deus, Lisboa está cheia de lugares onde é realmente possível que tomemos uma à nossa saúde. Que tal lhe parece?
Um beijo para si. Azul.
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