Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

domingo, abril 05, 2009

Carta de uma Mulher para um Homem Anónimo.

"Apresentas-te-me com um porte de Príncipe, por vezes assumindo mesmo a altivez nobre de um Rei. Talvez o tenhas sido já numa outra vida tua, anterior a esta a que, nem eu nem tu temos acesso pelo simples processo usual da lembrança. Talvez seja daí que te conheço. Quem sabe? Talvez.
Agora, nesta vida que percorremos, constato sim que de Principesco ou de Nobre te resta apenas o porte, dado que a ambiguidade que te povoa e que, portanto, te atraiçoa, parece ser a tua verdadeira essência. Sim, a ambiguidade é e sempre foi tua. Por dentro ou por detrás das vestes ricas que fazes por envergar, escondes, como sabes, alguém que se sente um plebeu da mais modesta condição. E digo modesta porque te estimo e respeito: eu não sei quem terei sido em tempos esquecidos e por isso reservo-me, pela desconjuntura eventual do meu passado, a não te desconsiderar nem em milímetros. Sim, porque todos temos um passado.
Despido revelas-te como um pêndulo oscilante entre o pobre de espírito (o miserável), e o condenado à fúria dos pecadores (o de duvidoso carácter). Não te livras com facilidade de te sentires como menor pelas jóias que, entendes, deverias ter. Nada do que podes aprender te merece o respeito devido, pois nesta fase do caminho, ou serias ouro e pedras e tronos, ou nada. Para nada consideras que vales. Nada! Do outro lado, difícil continua a ser-te a resistência às tentações despudoradas que, entendes, não deverias querer viver, pois que te tornam menos digno da justiça que o Rei de outrora que albergas dentro de ti, te continua a exigir que sejas. Não mereces o amor de ninguém, pois que dele não te sentes digno!

Vergonha e Culpa são as tuas mais fortes energias. Nem o orgulho que, mesmo arrogante ou vaidoso que fosse, te poderia dar algum consolo, consegues alimentar devidamente. Escolhes antes esticar a corda dos outros, para ver se te suportas melhor por interpostas capacidades alheias de humanidade.
Para a tua pobreza de espírito, devolvo-te a minha compaixão; para o teu carácter duvidoso, o meu silêncio empático. É como te digo: eu não sei quem fui outrora. Hoje, sou uma mulher livre que, enquanto tal, se sente e sabe e se assume como inteiramente responsável pelas suas opções!"

2 Comments:

Blogger Alberto Oliveira said...

... o texto é muito interessante. Fosse eu a escrever algo assim, não me continha com os nomes que daria às personagens...

Beijos e sorrisos.

11:43  
Blogger Justine said...

A segurança de quem (ultra)passou o tempo das ilusões, de quem começa a ver com clareza!

20:55  

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