A Velha.
Cantam os pássaros lá fora animando a praça num dia soalheiro
como o de hoje.
A mulher velha de cara rosada pelo álcool está sentada no banco do jardim em frente à Igreja. Peúgas de lã esgaçadas nos calcanhares bata desbotada por cima da roupa
uma combinação daquelas antigas rendadas no peito
dão-lhe um ar pobre e solitário.
Traz um lenço atado à cabeça encobrindo os cabelos brancos
emaranhados colados a porcaria.
No saco de plástico leva a garrafa de um litro e meio de qualquer coisa. Bebe aos goles tentando disfarçar o indisfarçável.
Está só.
Dorme, acorda, torna a dormir ao som dos pássaros...
Outrora tranças negras emolduravam-lhe o rosto
bojudo e alegre
suponho.
As pernas de tom castanho azulado andam desnudas para quem as queira ver. O frio não importa quase nada. Está um dia de Sol.
Um casaco de malha com desenhos esburacados suaviza-lhe o ar
desnorteado.
Não reparei se está calçada mas imagino que traga chinelos de enfiar no dedo.
Estão na moda. É uma verdadeira dama.
Certamente para além do que vai bebendo de quando em vez comemorando
os dias que não passam mais
terá o delírio por companhia. Ou talvez não. Não faço ideia o que saberá da vida.
Olho-a da varanda do meu escritório e penso que este lugar ganhou uma nova habitante.
como o de hoje.
A mulher velha de cara rosada pelo álcool está sentada no banco do jardim em frente à Igreja. Peúgas de lã esgaçadas nos calcanhares bata desbotada por cima da roupa
uma combinação daquelas antigas rendadas no peito
dão-lhe um ar pobre e solitário.
Traz um lenço atado à cabeça encobrindo os cabelos brancos
emaranhados colados a porcaria.
No saco de plástico leva a garrafa de um litro e meio de qualquer coisa. Bebe aos goles tentando disfarçar o indisfarçável.
Está só.
Dorme, acorda, torna a dormir ao som dos pássaros...
Outrora tranças negras emolduravam-lhe o rosto
bojudo e alegre
suponho.
As pernas de tom castanho azulado andam desnudas para quem as queira ver. O frio não importa quase nada. Está um dia de Sol.
Um casaco de malha com desenhos esburacados suaviza-lhe o ar
desnorteado.
Não reparei se está calçada mas imagino que traga chinelos de enfiar no dedo.
Estão na moda. É uma verdadeira dama.
Certamente para além do que vai bebendo de quando em vez comemorando
os dias que não passam mais
terá o delírio por companhia. Ou talvez não. Não faço ideia o que saberá da vida.
Olho-a da varanda do meu escritório e penso que este lugar ganhou uma nova habitante.
3 Comments:
Re-habitar lugares com novos habitantes, é a fórmula correcta de re-habilitar esses mesmos lugares.
Afinal, as políticas sociais, não estão tão mal como querem fazer crer. Nós é que padecemos de insatisfação crónica... E a velha bem podia gastar da Helena Miró e beber Don Perignon...
Beijo e um óptimo fim de semana!
A tua descrição sobre a velha da praça é soberba. Quando ia para Bragança de férias e volta e meia, ia visitar familia das aldeias vizinhas, lembro-me bem que as velhas que eu via sentadas no átrio da igreja eram iguaizinhas à descrição que fizeste. Não sei se são pobres, se estão sós, se querem apenas aproveitar o dia soalheiro. Mas que sedevem sentir sózinhas, lá isso devem...apenas as recordações e as lembranças por companhia!
talvez tenhamos todos a aprender com quem aprende como tu a retirar do mundo o néctar do que verdadeiramente interessa. se não fôssemos tão desajeitados a ler as pessoas e, como tu, as penetrássemos com o nosso olhar meigo que vê a dama por detrás de todas as decadências, o mundo seria mais povoados pelos nossos sonhos do que pela falta deles.
Parabéns pela sensibilidade extrema e pela expressividade ao seu serviço.
Beijinho,
J.
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