carta.
"Em dias de tempestade como o de hoje, resta-me escrever-te uma carta de amor.
Sim, de amor. Ouviste bem.
Sabes como sou, por vezes, mesquinha com a mania das palavras e do uso que teimo em querer que façamos delas. Gostaria que elas me servissem sempre, sempre como idealizei: que me servissem para expressar rigorosamente o que penso e sinto a cada instante.
Lembrei-me hoje, que em tempos te pedi que retirasses do vocabulário que usas a palavra amor, por algo que em mim, admito, talvez se possa assemelhar a uma espécie de pudor acerca do seu conteúdo. Estou certa de que nessa altura foi o pudor que me levou a tal solicitação. Contudo, devo pedir-te desculpas pela limitação a que, entretanto, te votei na expressão livre do teu sentir. Limitei-me a mim mesma sem pensar nisso, na recepção de algo que me dirigias e que eu, afinal, deconhecia.
Não, não vou questionar-me mais acerca do que esta palavra significa, ou a que conteúdos rigorosamente se refere, uma vez que importa agora que seja capaz de me desculpar pela forma grosseira e egoísta com que te tenho recebido interiormente. Na verdade, se o pudor me obrigou a rejeitar tal palavra, o orgulho impede-me com frequência de pedir desculpa.
Gostaria de te dizer que tens sido para mim uma enorme descoberta, mais do que uma grande aventura. A ignorância que experimento em face de cada nova aprendizagem que contigo posso realizar, convece-me de que me enganei à primeira vista. Mais do que um castelo na areia, ou de um fugaz encontro, talvez o que me tenha acontecido seja algo de superior que ainda não sou capaz de nomear.
Desculpa-me, amor. Desculpa-me..."
(...)
Sim, de amor. Ouviste bem.
Sabes como sou, por vezes, mesquinha com a mania das palavras e do uso que teimo em querer que façamos delas. Gostaria que elas me servissem sempre, sempre como idealizei: que me servissem para expressar rigorosamente o que penso e sinto a cada instante.
Lembrei-me hoje, que em tempos te pedi que retirasses do vocabulário que usas a palavra amor, por algo que em mim, admito, talvez se possa assemelhar a uma espécie de pudor acerca do seu conteúdo. Estou certa de que nessa altura foi o pudor que me levou a tal solicitação. Contudo, devo pedir-te desculpas pela limitação a que, entretanto, te votei na expressão livre do teu sentir. Limitei-me a mim mesma sem pensar nisso, na recepção de algo que me dirigias e que eu, afinal, deconhecia.
Não, não vou questionar-me mais acerca do que esta palavra significa, ou a que conteúdos rigorosamente se refere, uma vez que importa agora que seja capaz de me desculpar pela forma grosseira e egoísta com que te tenho recebido interiormente. Na verdade, se o pudor me obrigou a rejeitar tal palavra, o orgulho impede-me com frequência de pedir desculpa.
Gostaria de te dizer que tens sido para mim uma enorme descoberta, mais do que uma grande aventura. A ignorância que experimento em face de cada nova aprendizagem que contigo posso realizar, convece-me de que me enganei à primeira vista. Mais do que um castelo na areia, ou de um fugaz encontro, talvez o que me tenha acontecido seja algo de superior que ainda não sou capaz de nomear.
Desculpa-me, amor. Desculpa-me..."
(...)
7 Comments:
A palavra "AMOR". Entendo o pudor de usá-la. Tão puidinha que anda, de tanto uso abusivo.
É talvez por isso que temos de inventar um novo vocabulário para o amor que se renova
Desculpar como forma de encetar. Interessante.
Grande abraço.
Azul, fascinante carta de amor,de humildade, de compreensão, de descoberta. Um ensinamento, também.
Nota breve: é o trompete do Chet Baker, uma paixão, como paixão é o "quarteto.." que já li várias vezes(e nem sempre comecei pela "Justine"),sempre encontrando coisas novas e a constatação de que a verdade nunca é universal, mas sempre, sempre pessoal.
Bom fim de semana
Azul, fascinante carta de amor,de humildade, de compreensão, de descoberta. Um ensinamento, também.
Nota breve: é o trompete do Chet Baker, uma paixão, como paixão é o "quarteto.." que já li várias vezes(e nem sempre comecei pela "Justine"),sempre encontrando coisas novas e a constatação de que a verdade nunca é universal, mas sempre, sempre pessoal.
Bom fim de semana
... usa-se e abusa-se de tão complexo e incontornável vocábulo. Contenção, senhores (e senhoras). Contenção!
Abraço e sorrisos.
As cartas de amor escritas em dias de tempestade, não servem para justificações: servem para escrever a tempestade.
Muito lindas!!!parabens
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