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Há reflexões dentro de nós que, volta não volta, re-surgem como necessárias.
Em tempos, enquanto me deitava regularmente num divã de costas voltadas para alguém que, pacientemente me ouvia, perguntava-me entre tantas outras coisas, o que seria eu capaz de fazer por amor. É daquelas perguntas banais que qualquer ser que se dedique a pensar-se de uma maneira tão íntima e profunda, esbarram em nós, como que procurando-nos, sustentando a busca desembaraçada que empreendemos para percebermos quem somos.
Lembro-me que a resposta que dava a mim própria nesse tempo já distante, era de que estaria disposta a muito pouco. Basicamente, a muito pouco. Estava aparentemente segura de que o que tinha, onde estava, o que sabia e, sobretudo, o que queria privilegiar na minha vida, não passava por me disponibilizar a mudanças de grande porte, em nome de um tão falado amor.
Dito de outro modo, não me via, na altura a que me refiro, a viver um amor com alguém que justificasse grandes mudanças ou alterações na minha vida. Queria convencer-me de que o amor que tinha conhecido, até então, me bastava. Queria esconder de mim mesma a verdade maior: a de que há muito tinha deixado de acreditar que esse amor que justifica a mudança (que, simultaneamente promove a mudança, o progresso, porque acrescenta a cada um dos amantes, conhecimento sobre si próprio e sobre a vida) teria algum dia, lugar na minha vida.
Resposta feita, concluída. Não se fala mais nisso! - disse-me em segredo - para não ter de perceber que, para além da minha descrença acentuada, o amor que tinha conhecido até então me tinha magoado a valer.
Lembro-me que me dizia que amar a um outro era algo de essencial para mim, mesmo que o retorno que desse movimento obtivesse, fosse escasso, insatisfatório. Na verdade, queria convencer-me de que deveria ser como mais ninguém, isto é, deveria suportar como bastante, amar, mesmo sem me sentir amada de volta.
Admito que dificilmente suportei perceber na altura que, para além da descrença que me habitava relativamente ao amor, obrigava-me a uma espécie de pacto com o diabo! Mentia-me! Atraiçoava-me! Submetia-me a uma indiferença que passou a ser de mim, para mim mesma. A um abandono repetido, intrangisente que, em surdina me dizia, insistindo, para que não me aventurasse. Achava eu que não valia a pena. O Amor. Eu. A minha vida. Não valia a pena...
Reflicto de novo, anos passados. Que sou eu hoje capaz de fazer por amor? Pergunto-me outra vez.
Dá-me vontade de rir, agora!
Desta vez não sei responder...
Em tempos, enquanto me deitava regularmente num divã de costas voltadas para alguém que, pacientemente me ouvia, perguntava-me entre tantas outras coisas, o que seria eu capaz de fazer por amor. É daquelas perguntas banais que qualquer ser que se dedique a pensar-se de uma maneira tão íntima e profunda, esbarram em nós, como que procurando-nos, sustentando a busca desembaraçada que empreendemos para percebermos quem somos.
Lembro-me que a resposta que dava a mim própria nesse tempo já distante, era de que estaria disposta a muito pouco. Basicamente, a muito pouco. Estava aparentemente segura de que o que tinha, onde estava, o que sabia e, sobretudo, o que queria privilegiar na minha vida, não passava por me disponibilizar a mudanças de grande porte, em nome de um tão falado amor.
Dito de outro modo, não me via, na altura a que me refiro, a viver um amor com alguém que justificasse grandes mudanças ou alterações na minha vida. Queria convencer-me de que o amor que tinha conhecido, até então, me bastava. Queria esconder de mim mesma a verdade maior: a de que há muito tinha deixado de acreditar que esse amor que justifica a mudança (que, simultaneamente promove a mudança, o progresso, porque acrescenta a cada um dos amantes, conhecimento sobre si próprio e sobre a vida) teria algum dia, lugar na minha vida.
Resposta feita, concluída. Não se fala mais nisso! - disse-me em segredo - para não ter de perceber que, para além da minha descrença acentuada, o amor que tinha conhecido até então me tinha magoado a valer.
Lembro-me que me dizia que amar a um outro era algo de essencial para mim, mesmo que o retorno que desse movimento obtivesse, fosse escasso, insatisfatório. Na verdade, queria convencer-me de que deveria ser como mais ninguém, isto é, deveria suportar como bastante, amar, mesmo sem me sentir amada de volta.
Admito que dificilmente suportei perceber na altura que, para além da descrença que me habitava relativamente ao amor, obrigava-me a uma espécie de pacto com o diabo! Mentia-me! Atraiçoava-me! Submetia-me a uma indiferença que passou a ser de mim, para mim mesma. A um abandono repetido, intrangisente que, em surdina me dizia, insistindo, para que não me aventurasse. Achava eu que não valia a pena. O Amor. Eu. A minha vida. Não valia a pena...
Reflicto de novo, anos passados. Que sou eu hoje capaz de fazer por amor? Pergunto-me outra vez.
Dá-me vontade de rir, agora!
Desta vez não sei responder...
6 Comments:
É uma reflexão muito estimulante,a tua.E comprova que a arrogância da juventude nos ajuda a crescer(amadurecer),e à medida que vamos envelhecendo vai escasseando a capacidade de encontrar respostas.
Gostei desta sessão de autoanálise :))
Beijo
Chegaste à que me parece a conclusão óbvia. É que quando se trata de amor e de nós, a surpresa é quem mais manda. Não valendo a pena o tempo perdido a pensar nisso - é melhor empregue a amar alguém, ou algo; nós, por exemplo.
Parece-me que a resposta está dada..É por amor que se apaga toda a vida num segundo..Porque quando a gente gosta, muda tudo, até o mundo .ASSIM CANTA KÁTIA GUERREIRO.Um abraço ,ell
... supreendeste-me, pois imaginei que lá para o final escrevesses uma frase do género: "Por amor serei capaz daquilo que não me imagino a fazer!" Parece uma frase dúbia mas não é. E dá muito jeito, porque não especificamos o que é que não nos imaginamos a fazer... Eu próprio já a proferi e... tramei-me: passei uns anos largos a lavar a loiça das refeições.
Mas tu saiste-te muito bem: não deixa de ser também uma resposta evasiva. E quando o amor acontece, logo se vê.
Um abraço e sorrisos.
O tamanho do amor mede-se pelo que somos capazes de mudar na nossa vida...e pelo que somos capazes de abandonar para o seguir.
É uma ideia romântica?
Talvez... Mas continuo a achar que o fado tinha razao: "nunca se ama bastante / quando nao se ama de mais..."
Seja embora verdade que a desilusao é directamente propocional ao tamanaho do amor...
(hoje só me saem lugares-comuns! Talvez porque o AMOR seja, afinal,um grande lugar-comum...)
Olá méon. Decido responder-lhe a si, aqui, pelo facto de ter ficado a pensar na sua resposta/comentário. Na verdade, no tempo anterior ao qual me refiro, onde dizia a mim mesma que não estava disposta a mudar grande coisa - basicamente, muito pouco! - sentia antes, que não me via a abandonar algumas das "coisas" que me eram seguras na altura (fossem elas, exteriores, ou internas). À mudança em si, já estava aberta, uma vez que me decidi a fazer psicanálise (processo que, por definição, implica mudança). Psicanálise à qual me entreguei voluntariamente, precisamente em busca de uma mudança interior que me era urgente! Fi-la, sem dúvida. Mudei de facto. Resta agora dizer a mim mesma, na mudança que já me permitiu disponibilizar-me de novo para o amor, que estou disposta a abandonar o que quer que seja, caso tenha o retorno que exijo!
Na verdade, se deixo este texto com uma resposta aberta, é porque, talvez, me sinta a cada dia que passa da minha vida, a abandonar já alguma coisa...
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