Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Localização: Lisboa, Portugal

Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Pedaço de Prosa.

(...)

Carlos.

Devo dizer de ti, Carlos, que me inspiras como ninguém.

Engravidei de ti há alguns meses atrás quando te vi e ouvi dizeres o meu nome, quando me chamaste miúda na brincadeira, quando me permitiste beijar-te de forma ingénua, porque virgem dos teus lábios do teu gosto do teu sabor mentolado, com toques de toranja doce/amarga. Ainda não te tinha dito desta gravidez, como nunca te disse dos filhos que já perdi que já me morreram sem que pudesse amá-los devagarinho. Sonhei-os sem me sonhar a mim, porque a mim poucos sonharam. Ou talvez seja eu que sou ambiciosa demais...
A verdade é que trago um filho teu, comigo, agora. É um filho da madrugada, um filho puzzle que preciso de montar para que saia belo como tu. Para que saia são e a falar correctamente e com voz de quem tem algo a revelar. Quero que saia com carácter, determinado a ser bom e generoso como eu, e sobretudo, que saia sem réstia de mágoa pelo que fizemos já, os dois, aos outros, vida fora. Quero os nossos filhos por madrugadas adentro, feitos de conversas partilhadas, de salivas misturadas sem outras correspondências à mistura.

Inspiras-me Carlos, como ninguém.

Continuas a minha maternidade até agora exercida em silêncio, nos lutos travados dentro de mim, duradoiros, insuperáveis, mas vivídos com tanta tanta força, tanta dedicação. A minha maternidade travada em prol de todos os outros, menos de mim, que nunca tive mãe, e que portanto, tive de me sonhar sózinha. Com isso, ainda não tinha tido tempo para me parir a mim mesma à luz do dia. Aqui estou eu agora, tentando re-construir o puzzle de mim, desfeito em pedaços de argila que por vezes se desfazem em quase pó. Chove entretanto, o que ajuda muito. Não fosse esta chuvinha miúda e o pó não seria nunca massa firme capaz de ser moldada, esculpida, formada assumindo contornos de pequenas flores de jasmim branco como aquelas que pedi que te chovessem, vindas do céu, no dia do teu aniversário...