Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Localização: Lisboa, Portugal

Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

domingo, novembro 19, 2006

ontem olhei para deus...

ontem olhei para deus de frente
nos olhos dele...
no retorno beijado próximo do meu rosto
senti-lhe a humanidade vulgar que a si também transporta.
o cansaço do tempo eterno
fá-lo atarracado. está velho.
esbranquiçado.
o cigarro cheiroso anima-o ainda adocica-lhe
o olfacto primitivo.
curiosamente não somos da mesma altura. eu que o tinha imaginado grande
enorme cativei-o para que se me mostrasse naquilo que
secretamente
não revela nem aos seus.

a palavra criada ouvida falada
a palavra re-inventada
a alma da palavra comunicante.
obrigada deus pelo seu cuidado

(para o prof. amaral dias)

segunda-feira, novembro 13, 2006

1969.

"Hoje é o dia do meu aniversário. Ficam completos 36 anos da minha vida. Da minha existência...". No ano passado era este o início do texto escrito neste recanto ora sombrio, ora descarnado, ora imaginativo, terno, bem humorado, sedutor, amargurado, colorido, divertido, partilhado...

Hoje, palavras procuram-me em busca da invenção de um novo cumprimento para me dirigir e, sem o prever, dou comigo a reler-me e a não perceber o que não vi de mim. É provável que seja da luz. Talvez. Alguma coisa mudou entretanto, e contudo, se me perguntarem o que fui, não sei responder. Creio que deixei de vez a réstia de inocência que me esculpia as faces de um rosado natural. Sinto-me confiante não sei bem em quê. Sinto-me a valer um Tejo e tudo. Os amigos manifestam-me uma dedicação inesperada. Sorriem-me de todos os lados e eu agradeço, meio estupefacta, confesso. Muita gente me mostra confiança, mostra ouvir o que tenho a dizer, alguns insistem em vir ler-me. Obrigada.

Mantenho o lápis preto bem carregado a delinear-me o olhar. Torna-o atrevido e forte, creio.
Quanto a extravagâncias, este ano resolvi aderir às botas de cowgirl, sendo que, as que comprei são em tons de ouro porque afinal, eu continuo a mesma - e a gostar de dar nas vistas, que é que querem?
Não estou mais inspirada que outrora, nem menos parece-me, embora me sinta a gastar vocábulos à tôa.
Creio que, na verdade, quero dizer apenas que me sinto muito feliz e achei por bem partilhar-me convosco neste bem estar. Até p'ro ano!

domingo, novembro 05, 2006

Líquido Devir.

boiavam pedaços de carne
esfiapados
dançantes
amordaçados
dentro de um frasco de formol.

sem alma
gritaram-lhe aos ouvidos para que deles soubesse
que já tinham sido seus.
olhou-os
não sei se incrédula se conformada:
resistente, aliviada!

antes
formaram todos juntos um futuro
a acontecer dentro de si:
um nó cego
uma encruzilhada
um rolo de carne viva em movimento.

na bifurcação ficou parada.
não andou daí p'ra cá.
não se mexeu.
não disse nada.

sobreviveu.

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lágrimas perdidas
procura-as baratas p'ra ver se se renova
se resgata aquilo que perdeu.
desfez-se de um pesadelo
arriscou-se
decidiu!
sofre a dor de ser mulher e
aguarda em silêncio
sempre em silêncio
a possibilidade última de se
nomear


(eu voto Sim nodireito à decisão livre. Não, à hipocrisia gratuita, ao comércio de carne fresca livre de impostos. VOTE no Referendo!)