Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Localização: Lisboa, Portugal

Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

segunda-feira, março 27, 2006

Curta # 4.

Na vida há apenas uma coisa que é uma via de sentido único: a própria vida.
Para tudo o resto, há sempre vias alternativas.

domingo, março 19, 2006

Behind Sylvia.

ali dentro estão ervas choronas daquelas antigas
roendo cordas e gritando alto - muito alto. os
caminhos sem volta batem baixinho enlameados
junto às ombreiras das curvas de
um só nó.
é tarde. silos de pó estragado armam desafôros e pedem aos deuses
para queimar o estrume dos vales.
de nada lhes serve a humidade dos corpos ou a beleza do sal marinho.
estão perdidas as trutas que ouviram o choro das ervas. daninhas.
verdes escuras. grosseiras.
há um espaço fechado atrás daquele balcão que dá prá esquina do outro lado.
escondem-se as ervas não vá o chão apodrecer. Sylvia.


de noite não está lá ninguém. a espera
é imensa do tamanho de um quadrado perfeito. é matemática pura.
esticadas vão as lampreias borda fora
borda adiante largadas à pressão como baldes de tinta preta.
pedras pequenas e rubras descascam cebolas cozidas. janelas fechadas
trombetas em crista amalgam-se aos montes. não há estrelas
e a luz avinagrada amaldiçoa a perfeição. abatem-se árvores enciumadas.
morrem as anedotas. morte ao riso.
ciso. contas fiadas escritas a óleo de amendoim dão o toque inicial
na aventura da
acção.

terça-feira, março 14, 2006

As varinas.

São 7 as saias que usam.
Fitas gregas, adornos floridos, rendas brancas adocicam-lhes os joelhos cansados e gastos de tirar tripas ao peixe. Grossas tiras de sangue enrolam-se nas pernas pesadas, quais cobras pintadas de roxo, tatuadas. Lenços de flores cobrem-lhes as cabeças, e as blusas que vestem hoje, são como as de antigamente. Têm folhos e rendas e bordados, bolas e pintarolas de cores garridas.
Os homens estão fora deambulando ao vento. Atiram redes pesqueiras em busca do oiro e comem sandes de torresmos com copos de vinho para aquecer as almas empedernidas.
De madrugada, ainda o sol ressona, chegam com o sal a exfoliar-lhes o rosto. Elas esperam na praia. Rezam a Deus pela chegada. "Ai os nossos homes tão ai na tarda. Ai louvada sejas Santa Mãe, que os trouxeste de volta." Acendem velas que ardem ao soprar da brisa marítima enquanto, entre abraços e beijos, puxam com força os barcos pra terra.

As águas batem forte no rochedo sagrado.
Flutuam no ar pérolas de areia branca.
Canastas de verga velha e escura aguardam no passeio da cidade para se encherem de peixe vivo e fresco.
Rolha de trapo enrolada a preceito na cabeça da varina. "Oh freguesa! Olhe a sardinha fesquinha! Hoje o peixe é maravilha!" ...

terça-feira, março 07, 2006

Desabafo ou Dissidência?.

Decidir entre o que quero, o que me faz sentido e o que posso, não é tão simples quanto, creio, deveria ser para mim. Digo "creio deveria ser", na perspectiva que tenho acerca da Liberdade que, por direito, me assiste de me exercer enquanto dona e senhora de mim e do meu destino.
Estando certa de que, na condição humana na qual me fundo, cresço e sou, a minha liberdade depende do amor possível partilhado com os outros que me são próximos, não deixo, no entanto, de sentir por vezes, que sou confrontada e afrontada nesse mesmo amor que me é indispensável tanto quanto fundamental. Confrontada quando exigem que decida entre a ruptura com alguém que amo ou a possibilidade de comigo prosseguirem, na ajuda que me dão, no cumprimento da Minha Vida. Afrontada quando me dizem que é por amor a mim que assim o exigem. Balelas. Disparates. Embustes. Interesses diversos dos meus e dos meus valores.

Bem sei que as rupturas não são fáceis. Que há diferenças prováveis entre as rupturas internas e externas, entre rupturas decididas por dentro e as impostas por mecanismos externos a nós e à nossa vontade. São rupturas, todas elas e ponto final.
POr minha parte, prefiro associar as minhas rupturas às decisões que tomei, tomo e tomarei doravante, ao longo do tempo de vida que me estiver destinado. Prefiro, portanto, colocar as rupturas/decisões ao serviço da liberdade da minha condição de ser existente.

Não me interessa passar muito tempo a pensar, a ponderar, a questionar-me acerca de como poderia ter sido, de como será melhor fazer, de como poderei, de forma mais eficaz agradar a gregos e a trioanos. Quero lá saber dos gregos! Aos troianos respondo com manguitos estruturados!
Então e Freud?
Onde fica dentro de mim tão distinta figura?
Como me coloco face ao seu pensamento?
Não sei.
Talvez possa pensar nisso. Talvez ganhe em pensar nisso. Contudo, Freud nunca me deu a possibilidade a mim, de ter um lugar dentro de si. Não fico zangada com ele uma vez que, com ele, posso aprender a dar-me a mim mesma um lugar dentro de mim. Foi o que ele fez. Nisso, gostaria de o seguir. Porém, não me chamo Freud, mas Maria. Jamais poderei dar dentro de Maria um lugar a Maria igual ao lugar que Freud deu a Freud dentro de Freud.
As diferenças entre nós são claras: não temos o mesmo nome próprio; não vivemos na mesma época histórica; não temos a mesma história de vida (interna e externa); não temos o mesmo sexo; não pensamos da mesma maneira.

Freud foi um homem de ruptura. Eu sou uma mulher de rupturas na continuidade de mim.
Freud rompeu com os outros externos a si. Freud fez História. Eu tenho rompido com os outros dentro de mim. Faço dessas rupturas a minha própria história.

segunda-feira, março 06, 2006

Eu.Chamo-me Azul.

Há uma espiral de fumo no ar que decorre das veias entrelaçadas deste lugar de onde vos falo, e que faz dele um ser vivo. Os pensamentos percorrem a minha alma incessantemente e eu tento disfarçar que não escorreguei neles, para me proteger de cair em mais alguém que conheci. A vida real acontece aqui. O azul da água do mar evapora-se no tormento do presente e eu invento um blog para me continuar, talvez sem rumo, sem destino, sem silêncios. Falo-vos pois, com a minha voz tranquila, azul que é ela também, e partilho o desabrochar dos sons que me traduzem e me definem no talento perdido. Estou aqui e espero-vos na inquietude do tempo. O sorriso e o brilho do meu olhar jamais serão estranhos e em vão. Conheço-vos? Não. Eu. Chamo-me Azul.

(Há um ano atrás, abri o meu lugar de escrita com este texto de apresentação. Republico-o hoje, para cumprimentar todos os que têm vindo até mim através dele, renovando a minha disponibilidade para que nos vamos podendo encontrar por aqui. Obrigada.)

sexta-feira, março 03, 2006

Amplitude.

I Love You.