Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Localização: Lisboa, Portugal

Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

segunda-feira, julho 25, 2005

Imprevisto!

O teu olhar encantou-me.
Os teus braços torneados e suavemente revestidos de seda natural,
estimularam-me a fantasia.
Fiquei imaginante quando te apreciei as mãos de dedos longilíneos,
perversamente sensuais.
Quis ser o teclado de um piano.
Uma partitura escrita a tinta da china.
Uma tela em branco para brincares aos pintores.

Ouvi-te sussurar baixinho o teu desejo. Deliciei-me
com o calor da tua voz meiga e tímida.

Sorris como quem lamenta ser tão belo,
tão irresistivelmente apaixonante.
És imperdoável
por me teres acorrentado a ti, qual maldição incandescente.
Persegue-me este amor desnorteante.
Esse sabor a melancia fresca.

A paixão arreda-me de mim.
Faz-me levitar, decidir, acreditar.

quinta-feira, julho 21, 2005


Bofetadas de Amor? Posted by Picasa

Todos iguais, todos diferentes - uns mais iguais que outros!

Não estamos certos do que seria uma sociedade ideal, nem sequer se, a existir ou a ser possível, seria desejável. Da mesma maneira, e ao nível individual, jamais encontrámos o ser ideal, perfeito. Mas, e de acordo com o que somos e conhecemos da nossa espécie por via do contacto que todos temos uns com os outros, acreditamos que se existe esse ser ideal, não será humano. Resta-nos aceitar a realidade do que somos, na distribuição de espécie que nos divide entre machos e fêmeas, não descurando, porém, aquilo que já vamos sabendo que não nos distingue.
Por exemplo, tudo o que se encontra na dimensão relacional afectiva da nossa vida. Haja a possibilidade de assumir as dimensões que transcendem aquilo que a sociedade faz com elas, porque estão para além e antes dela. Haja a coragem de continuar a reflectir sobre tais dimensões, sem medo de corrermos o risco de nos tornarmos indesejáveis socialmente, mal entendidos, desvirtuados na nossa identidade como seres humanos, ou como homens ou mulheres que somos. Continuemos a fazer esforços para que nos “inscrevamos” como diria José Gil.

No tempo presente, a sociedade ocidental (da qual a sociedade portuguesa faz parte) pretende de algum modo ser modelo de virtude, de sucesso, de pacificidade, de equilíbrio. Nem sempre o consegue. Porventura não tem possibilidades de ascender a tais padrões a que aspira. Talvez se nos colocássemos num avião que sobrevoasse esta sociedade a uma distância suficiente, conseguíssemos ter uma visão que a aproximasse desse padrão. Contudo, como toda a distância que se quer óptima para percepcionar seja o que for, cairíamos no conforto da superficialidade da visão. Tentadora, tranquilizadora é certo. Porém, não perfeita, e menos ainda rigorosa. E menos ainda, verdadeira.
Numa lógica bipolar, bidimensional, temos ao longo do tempo viciado cada vez mais a forma como pensamos e, por conseguinte, agimos e somos. Naquilo que nos é mais essencial, porque determinante da forma como nos formamos, e assim podemos contribuir para o desenvolvimento do mundo social em que nos integramos - a gestão da nossa vida afectiva -, temos sido desonestos na maneira de crescer e ensinar a crescer, para poder ser.

Podemos imaginar com facilidade alguém dizer de uma menina que mais afirmativamente demonstre, expresse o seu desagrado face a algo, que é uma “refilona”, que tem um “péssimo feitio”; ou de um menino que seja mais discreto na expressão do mesmo desagrado, que é “mariquinhas” ou então que é um “cobardolas”. Também podemos imaginar facilmente o que faríamos ou diríamos a uma menina que nos chega a casa e conta que o colega da escola lhe roubou ou partiu o lápis – “Deixa lá, não te importes. A mamã depois compra outro”. Se se tratasse de um rapaz, se calhar a resposta podia muito bem ser esta “Então e tu ficaste-te? Não lho foste tirar?”.
Num contexto mais adulto, uma mulher que se apresente mais assertiva e determinada face aos seus objectivos profissionais, é por vezes dita como “varonil”; um homem nas mesmas condições, mas menos disponível para regatear aquilo a que tem direito ou pretende, é visto como “um fraco”. É certo que somos diferentes, que nem todos se regem pelos menos interesses, nem pelos mesmos modelos, porém, nestes vulgaríssimos casos que fantasiei, há algo que lhes é comum: alguma coisa se vive como agressiva, perturbadora do bem estar, ou estamos na presença de algo que queremos para nós, e por isso em qualquer das situações é solicitada a energia agressiva (ora como resposta; ora como energia mobilizadora). Todavia, podemos a partir destes simples exemplos compreender que não ensinamos (nem interiorizamos porque somos ensinados) de maneira similar ambos os sexos a gerir a agressividade, qualquer que seja o registo em que se possa tornar útil.
Da mesma maneira, também a partir deles, podemos reportar-nos às diferentes formas como socialmente são aceites (ou não) as várias formas de expressão dessa gestão.

Se atendermos às partes mentais responsáveis pela gestão do polo agressivo da vida - as partes sádicas e masochistas da mente -, podemos dizer que esta mesma gestão depende de balanceamentos correctos, para que eficazes, destas dimensões. Na sociedade em que vivemos, as raparigas e os rapazes são ensinados a fazer uso destas dimensões, de molde a que estes balanceamentos sejam tendencialmente estanques. Isto é, grosso modo, ensinamos as raparigas a fazerem uma gestão da agressividade com predomínio das partes masochistas sobre as sádicas; e os rapazes, a fazerem essa gestão com predomínio das partes sádicas sobre as masochistas. Numa aproximação grosseira à realidade dos fenómenos de que falamos, diremos que às raparigas é ensinado basicamente a “comer e calar”; aos rapazes, é dito que falem, que se revelem, e se necessário for que ajam.

Podemos fazer um esforço para considerar que todos estes elementos que são passados de geração em geração, têm um papel benéfico para a integração de todos os rapazes e raparigas no mundo social, e que a manutenção destas diferenças são igualmente benéficas para o garantido desenvolvimento da mesma sociedade. Podemos igualmente fazer um esforço para considerar, que salvo raríssimas excepções, estas diferenças no ensino e aprendizagem da gestão da agressividade não é essencialmente prejudicial ao bom desenvolvimento interior de cada indivíduo. Contudo, diríamos contrariamente ao ditado popular, que as excepções nem sempre confirmam obrigatoriamente e de forma linear a regra. Por outro lado, não nos parece sério que, mesmo que o ditado estivesse correcto, fosse motivo suficiente para desviarmos o olhar das excepções. Convivamos com o real. Não nos afastemos dele, ouvimos dizer a José Gil. Com Coimbra de Matos nos ouvidos e no coração, não estamos certos de que a boa fé e a boa vontade humana cheguem para acedermos a uma verdade mais ampla acerca destas questões. Expandamos o pensamento, para que nos transformemos continuamente e assim possamos desenvolver-nos, dir-nos-ía Wilfred Bion.

Muito recentemente, no ano de 2003, saíram para consulta e conhecimento de alguns (os poucos que se interessam por estas questões) os resultados de uma pesquisa levada a cabo pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, através do Socinova (Gabinete de Investigação em Sociologia Aplicada) sobre a Violência Contra as Mulheres em Portugal. Naquilo em que a modesta brochura que serve de suporte ao texto, nos dá conta das primeiras conclusões do estudo, cujos dados recolhidos continuam em análises mais aprofundadas, podemos desde logo ter uma visão privilegiada sobre os dados numéricos que atestam uma parte substancial da verdade que pretendem conhecer e revelar. São números cuidados, rigorosamente tratados e, portanto, credíveis. São assustadoramente verdadeiros. À medida que os vamos lendo, revelam-se tanto mais assustadores, quanto parciais. Apenas dão conta dos casos de violência participados aos Institutos de Medicina Legal do Porto e de Coimbra, durante o ano de 2000. São portanto parciais no que respeita à dimensão do tempo que cobrem, bem como quanto à cobertura que fazem do mapa geográfico português. Porém, podem muito bem ser paradigmáticos do que se passa neste país à beira-mar plantado, desde sempre, e em todos os lugares onde há gente. Além disto, e inequivocamente, obrigam-nos a permanecer situados num tempo presente.

Qualquer dos gráficos que apresenta a dita brochura, dá-nos conta da distribuição em percentagens de vários parâmetros analisados, abstraídos de milhares de casos.

São de facto aos milhares.
Milhares de mulheres batidas em Portugal no ano de 2000, em Coimbra e Porto.

Como é natural, sempre que se fala em violência contra as mulheres, fala-se de qualquer coisa que foi vulgarizada no discurso como “violência doméstica”, e por conseguinte, atendendo à maioria dos casos conhecidos, de violência física. O estudo a que nos referimos, teve o cuidado de abstrair um pouco mais quanto ao que pode ser a violência, revelando também (porque fez dela uma categoria a analisar e a atender) outras formas possíveis de vivência violenta como acontece com a vivida psicologicamente. Desde já, e não só por isto, merecem o nosso apreço. Foram corajosos. Aplaudimos de pé. Mas, neste nosso exercício reflexivo, não podemos ficar apenas pela verdade dos dados revelados, porque eles não revelam tudo, e sobretudo porque são anónimos. Com toda a validade e credibilidade que dedicamos aos autores e aos resultados por eles apresentados, não podemos deixar de a propósito dos mesmos, reflectir um pouco mais acerca da tentação à qual ainda não fomos capazes de resistir de ficarmos presos ao anonimato dos números. Quem são estas mulheres, designadas por vítimas? Quem são estes homens (na sua maioria, companheiros da vida adulta, objectos de amor destas mulheres) que recebem o título de agressores? O que os move nestas teias dignas de guiões apetecíveis para o cinema? Como se chamam? Quais são as suas estórias de vida individual? Como compreendem eles e elas o amor que vivem e que dedicam uns aos outros? Como vivenciam na alma, no coração, eles e elas, cada batida, cada empurrão, cada grito mais ou menos sussurrrado? Quem os ensinou a desamar assim?


(Ete texto é mais um excerto do ensaio sobre a violência no feminino, do qual faz parte o post anterior intitulado "O poder do silêncio". Agradeço a vossa leitura desde já, e desculpo-me pela extensão do post. Obrigada.)

terça-feira, julho 12, 2005

Citação.

"Durante o processo de criação, o artista e a obra influenciam-se mutuamente:
a obra oferece-lhe constantes sugestões, que visam suplantar o projecto inicial
do criador. Se este possuir a humildade e a autocrítica suficientes para atender
a tais alvitres e seguir-lhes os ensinamentos, criará uma obra que transcenderá
as suas capacidades pessoais".

(Karl R. Popper in "O conhecimento e o problema corpo-mente", p. 47)

segunda-feira, julho 11, 2005


Labirintos de vida! Posted by Picasa

quinta-feira, julho 07, 2005

Sem título.

Burburinhos aos soluços assolam-me de repente sem que possa escapar-lhes
Sem que possa negar que me ocorreram - como ideias passeando por cima das nuvens.
As veias embriagadas vermelhas ao rubro não me deixam mentir e
passo os dedos sobre as lâminas em busca de uma solução para o problema.
As palavras.
Mas, quais palavras?
Páro um segundo. Penso.
Afinal quem me disse que não havia anoitecer estava profundamente enganado.
Os mantos já se levantaram há 3 dias e ainda não vimos a luz do Sol. Trovoadas também não se fizeram sentir e, menos ainda, se ouviram as gargalhadas que foram
mastigadas em forma de U.
Começo a desconfiar que posso descodificar o que não sabia antes.
Os palpites do jogo saíram certos. Estou fascinada.
Sinto-me efervescente, completa, insistente...

Até logo.

" ... porque queres tirar a penumbra que protege os mistérios,
para os revelar na tela da paisagem que retratas
com os pincéis do intelecto ...

Com amor e admiração,
Fulano de tal."

Por que fazes com que os meus olhos vertam o líquido sagrado, logo a mim que já me tinha convencido que o Amor jamais me encontraria?
Por que levas tão a sério o que digo, penso e sinto?
Por que insistes em ajudar-me, estar ao meu lado, nesta aventura do conhecimento que me procura? Porque eu sinto-me definitivamente procurada por ela.
Por que me proteges com o teu sorriso, com os teus conselhos, com os livros que me trazes para ler (sempre os certos) ?
Por que é que me amas? Diz-me. Porque eu ando desconfiada que me amas, não é verdade?
Foi por isso que comemos sardinhas no pão pela noite fora, nas ruas daquela cidade, e dançámos no arraial junto à praça.
Foi por isso que ficaste chateado pelo frango que cozinhaste para o jantar estar uma porcaria.
Foi por isso que me deste aquele beijo logo de manhã cedo antes de saires de casa.
Foi por isso ...

Também te adoro e admiro. Tu sabes não é verdade?
Obrigada pelo presente de hoje. Do fundo do meu coração. Obrigada.
Vou lê-lo. Tu sabes disso. Foste certeiro uma vez mais. Estás a ficar perito em me fazer feliz.
Até logo.

quarta-feira, julho 06, 2005


Raios e coriscos Azuis!!!!! Posted by Picasa

Citação.

“...ali onde há obra, não há loucura; e no entanto a loucura é contemporânea da obra, dado que ela inaugura o tempo da sua verdade”.


(Michel Foucault in História da Loucura, pág. 530)

domingo, julho 03, 2005

O Poder do Silêncio.

Parafraseando George Steiner, as palavras podem veicular a verdade e a mentira. Na verdade, muitas vezes parecem manifestamente insuficientes para expressar o que vivemos. Mesmo os pensamentos, para serem considerados mais evoluídos, devem assumir a forma das palavras, num discurso que seja claro, fluente, compreensível. Mas as palavras ganham sentido, não só pelo que pretendem significar (e para que signifiquem, precisam que alguém as signifique), como também pelos silêncios que ladeiam. A voz de cada um é tão identificador de quem somos, como o nome que inscrevemos no Bilhete de Identidade. Há vozes grossas, cheias, calorosas; vozes agudas, finas, de timbre metálico; vozes suaves, macias, calmas; vozes desarticuladas, descontínuas; vozes roucas, obstruídas ... e há vozes nulas, “surdas”, ocas, vazias. E as vozes do silêncio. Palavras verdadeiras e falsas. Vozes sonoras e silenciosas. Todas têm poder e valor na escala da linguagem, na escala da comunicação, ainda que prefiramos todos (ou na nossa maioria) as que se ouvem, independentemente da verdade que comportem, ou do que pretendem significar.

Alice falou mas não se disse. Nunca se disse ou foi dita. Portanto, Alice tem uma voz de silêncio. Uma voz “não-inscrita” por inteiro, nem mesmo dentro de si. Alice aproxima-se em alguns pontos do Portugal de José Gil. Movimentava-se num espaço (interno, mas também exterior) apertado, de pouca espessura e amplitude, preenchido de frustrações não transformadas que a deixaram num sufoco impotente, sem condições de se tornar num discurso audível. Como um país histórico, mas aparentemente sem história, o caso de Alice dá-nos conta de uma parte da nossa identidade nacional, naquilo em que é uma cidadã portuguesa, e naquilo em que, sendo nativa de Portugal, é-o no feminino. José Gil demonstra-nos o silêncio que caracteriza a voz portuguesa; Alice, o silêncio das vozes femininas, em Portugal.

No contexto socio-cultural em que nos movemos, o silêncio é a pedra basilar da estabilidade, da manutenção dos poderes instituídos, considerados por sua vez, indispensáveis ao bom curso da vida civilizada, e que visa o progresso. Manda o bom senso que não falemos à toa, que nos reservemos quanto aquilo que se passe em nossa casa, na nossa família, quanto ao que nos vai nas entranhas da alma, sobretudo se somos mulheres. Já a mãe de Alice o sabia. Passou-lhe bem essa mensagem. “Mãe, tenho fome de ti, come outra coisa qualquer; Mãe, tenho dores de barriga, desenrasca-te como quiseres; Mãe, não ouço bem, não ouvi o que disseste. Cala-te. Cala-te, Alice”. O que fazer para romper com o tricot de malha apertada, tecida ao longo dos dias, dos tempos? O recurso à fala desmenti-lo-ia, desacreditá-lo-ia, tornar-se-ia potencialmente destrutivo do desenho antes projectado na folha de papel quadriculada, que acompanhava a revista de lavores ... Opte-se então pela manutenção do silêncio, na esperança de que alguém o torne discurso – sempre a espera e a convicção de que a ruptura se opere por outro que não o que sofre. “Que o digas tu, que eu não me atrevo a tanto!” – disse-me Alice. Di-lo-ei, sem prece nem promessa. Di-lo-ei.