Nomeio hoje, pela primeira vez, Deus. O Deus que há dentro de mim.
Sinto que cabe no meu espaço interno tanto quanto nele posso albergar toda a humanidade.
Penso que a história da velha que vos contei, bem como tudo o que vos disse através dela poderia agora resumir-se numa palavra:
Deus. Vocábulo expansivo, expansor. Fala. Voz.
Nunca compreendi como
hoje,
creio,
o que tantas vezes apregoei: Eu acredito nas pessoas.
Fui acusada de não saber o que dizia. De herege. De impura, insana. Acusei-me a mim mesma
porque pensava, pelo que pensava.
Quis firmemente acreditar "Nele" mas teimosamente sentia que me era impossível tal façanha.
Entre "Ele" e Eu havia um fosso intransponível. A palavra não correspondia ao som que ecoava em mim de cada vez que me esforçava, em vão, para negar a
caesura.
Percebo
hoje
que não valeu a pena o esforço. A
caesura existe. Deus existe. Eu falo.
Quero levar aos outros o que tenho de melhor dentro de mim: a palavra falada.
A minha. Não a "Dele". Essa, está fora de mim.
Não a conheço.
Não a alçanço.
Não a subscrevo. Não a temo.
Desminto-a. Afirmo-me.
Convicta: eu acredito em mim.
Existo. Insisto. Insight. Ferramenta indiscutível. Clara. Transparente.
Não olho para depois, não vejo atrás de nunca.
Espelhos de mil formas redondas com pontas de espargos brancos cozidos a vapor.
O lápis colorido macerado a óleo de côco com que escrevo é luz,
é vida. Hoje.
Aqui. A alma não foge. Fica.
Parto em busca da verdade. Procura-me.
Atravesso o caminho a passo descontraído sem contornar o óraculo interior.
Não quero a resposta.
... ...
Deus.