Decidir entre o que quero, o que me faz sentido e o que posso, não é tão simples quanto, creio, deveria ser para mim. Digo "creio deveria ser", na perspectiva que tenho acerca da Liberdade que, por direito, me assiste de me exercer enquanto dona e senhora de mim e do meu destino.
Estando certa de que, na condição humana na qual me fundo, cresço e sou, a minha liberdade depende do amor possível partilhado com os outros que me são próximos, não deixo, no entanto, de sentir por vezes, que sou confrontada e afrontada nesse mesmo amor que me é indispensável tanto quanto fundamental. Confrontada quando exigem que decida entre a ruptura com alguém que amo ou a possibilidade de comigo prosseguirem, na ajuda que me dão, no cumprimento da Minha Vida. Afrontada quando me dizem que é por amor a mim que assim o exigem. Balelas. Disparates. Embustes. Interesses diversos dos meus e dos meus valores.
Bem sei que as rupturas não são fáceis. Que há diferenças prováveis entre as rupturas internas e externas, entre rupturas decididas por dentro e as impostas por mecanismos externos a nós e à nossa vontade. São rupturas, todas elas e ponto final.
POr minha parte, prefiro associar as minhas rupturas às decisões que tomei, tomo e tomarei doravante, ao longo do tempo de vida que me estiver destinado. Prefiro, portanto, colocar as rupturas/decisões ao serviço da liberdade da minha condição de ser existente.
Não me interessa passar muito tempo a pensar, a ponderar, a questionar-me acerca de como poderia ter sido, de como será melhor fazer, de como poderei, de forma mais eficaz agradar a gregos e a trioanos. Quero lá saber dos gregos! Aos troianos respondo com manguitos estruturados!
Então e Freud?
Onde fica dentro de mim tão distinta figura?
Como me coloco face ao seu pensamento?
Não sei.
Talvez possa pensar nisso. Talvez ganhe em pensar nisso. Contudo, Freud nunca me deu a possibilidade a mim, de ter um lugar dentro de si. Não fico zangada com ele uma vez que, com ele, posso aprender a dar-me a mim mesma um lugar dentro de mim. Foi o que ele fez. Nisso, gostaria de o seguir. Porém, não me chamo Freud, mas Maria. Jamais poderei dar dentro de Maria um lugar a Maria igual ao lugar que Freud deu a Freud dentro de Freud.
As diferenças entre nós são claras: não temos o mesmo nome próprio; não vivemos na mesma época histórica; não temos a mesma história de vida (interna e externa); não temos o mesmo sexo; não pensamos da mesma maneira.
Freud foi um homem de ruptura. Eu sou uma mulher de rupturas na continuidade de mim.
Freud rompeu com os outros externos a si. Freud fez História. Eu tenho rompido com os outros dentro de mim. Faço dessas rupturas a minha própria história.