Cem Truques, Nu Azul

Um Lugar com Vista para Além de Mim ...

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Localização: Lisboa, Portugal

Simplicidade colorida de azul com um guache de água de colónia, seria certamente algo apetecível pelo cheiro, nem que fosse... Um alfinete-de-ama embebido em leite, uma sobremesa nova... E a imaginação, um rosto desfigurado de real...

segunda-feira, outubro 29, 2007

Ontem.

Quis abraçar-te dizendo-te que era importante para mim
sentir
o teu corpo
simplesmente
junto ao meu.
Pus o meu desespero á frente
dos teus olhos
para não te ofender.
Para não expor o teu.
Ajoelhei-me aos teus pés
pedindo-te
suplicando
para que viesses ao meu encontro
para não ferir o teu ego
despedaçado...

Sei que não estás bem.
Que és tu quem sofre
e muito
quem se esforça brutalmente para não
desistir de tudo
não sufocar
para não se voltar a perder.
Sabes que já me perdi de vista há tempos atrás
conheço muito bem esse lugar
esse abismo escuro onde nos parece que
para além da dor
não existe mais nada a não ser
a solidão irremediável.

O desamor. O desacreditar.

O desamparo habita-nos a todos
diz-se por ai como quem come pevides
e bebe cervejas frescas ao fim da tarde.
Quando se experimenta
a graça que tem é nenhuma.
Não dá vontade de rir
por vezes nem de chorar.

Rouba-nos a vontade
Isso sim!

Torna-nos preguiçosos
Isola-nos amesquinha-nos atormenta-nos
Inquieta-nos.
Deixa-nos sôfregos de nada.
É o nada que consumimos
para continuarmos a sentir a ilusão do poder
que perdemos entretanto.

Rir amar escrever acreditar.

Ao outro
No outro
Com o outro

Para ti.
Sentido pleno.

terça-feira, outubro 23, 2007

Absolutos.

Grandes líquidos arrojados
disponíveis
os homens!
Absolutos. Sombrios terrestres abutres
sadios.
Empreiteiros da arca de Noé
semelhantes a aves raras bravias.

Secretos distintos
absolutos
os homens!
Brilhantes maravilhosos a dois dedos de distância.
Incríveis.
Sedutores de graciosas puras.

Absolutos!

terça-feira, outubro 16, 2007

Carlos.

Espero-te sentada à minha porta
de olhos semi-cerrados inebriados pela
luz que, antecipo,
me trarão os teus...
Conto e reconto as contas perdidas
do meu rosário de criança e busco
recuperar de mim o nome da oração de que outrora
me socorri em momento de aflição.
Sinto-me segura agora
certa de que virás,
e ao primeiro passo que ouço entretanto
bater na calçada
levanto-me de um só gesto
e murmuro o teu nome...

Vens de livre vontade sentar-te também
à minha beira,
beber comigo da humidade da noite
e da luz dispersa das estrelas.
Alimentas-me o espírito, dizes-me a sorrir!
Acordas-me o corpo digo-te de volta...

Embala-me em ti, meu amor
Embala-me!
Canta-me canções ao ouvido, sussurra-me o teu desejo.
Ensina-me a ser macia, mais doce que o mel
terna quente bela
não fria.

Ensina-me a amar devagarinho...

quinta-feira, outubro 11, 2007

Abriga-me.

Quem me dera estar contigo
numa caixinha de pano
numa masmorra esquecida
num pedaço de papel.
Apenas tu e eu, lado a lado
escondidos
estreitando laços perdidos amados queridos.



Deixa-me enroscar-me nos teus braços
pega-me ao de leve com as tuas mãos suaves
toca-me.
Abriga-me
desata-me os nós cegos que trago.
Encosta a tua cabeça à minha
deixa-te levar pelos meus brados.


Perde-te de ti, amante meu
faz-me vibrar de novo ao teu lado
apaga-me o ar que aqui arde
beija-me desesperado.
Desventra-me o corpo com mil prazeres
estende-me no chão do teu olhar
treme grita berra ri
Faz-me levitar.


Não páro de te ouvir em minh’alma
Imagino-te a sorrir

Não digas nada!

segunda-feira, outubro 08, 2007

Desconhecido.

Cavalgas sob anonimato nas paredes dos outros
tentando despir a inocência que lhes resta.
Falas de sonho, de ternura, de presença
na esperança de os confundir,
de os fazer acreditar que és de cada um deles.
De os fazer acreditar que os amas.


Linhas meio caducas a cheirar a bafio vão-te dando a sensação que alcanças o que pretendes
Que jamais serás descoberto naquilo que escondes
No teu mistério.
Sim, pode ser o mistério que alimenta o meu sono.
Se durmo bem? Com certeza.
Eu sempre gostei de enigmas, de quebra cabeças.
Coisas que tais.


São deliciosas as fantasias que faço
de cada vez que me deparo com traços de alguém
que não recordo
sabendo que conheço de algures.
Escabrosas, algumas; pérfidas outras. Perversas.
Sempre coloridas perfeitas encadeadas
atrevidas como os beijos
que se querem seguidos
uns atrás dos outros
ou as lanternas que se usam
para que não nos percamos de noite em ruas escondidas

como as espreguiçadeiras em que nos deitamos fingindo que dormimos
suaves,
azuis escuras com almofadas brancas bem lavadas e fofas
a saber a fruta fresca acabada de colher num bosque qualquer
ali ao fundo daquela avenida.

quarta-feira, outubro 03, 2007

Convite: Re-começo!

Ora viva caros amigos da blogosfera! Após um período de ausência de cerca de um ano, em que estive a laborar por dentro um processo de luto de mim mesma, venho por este meio convidar-vos a voltar a entrar em minha casa, para tomar chá, conversar, partilhar ideias, opiniões, rir...

Prometo ser assídua na produção de textos originais, desta vez, fazendo uma tentativa de experimentar mais a sério o texto de humor e o erótico. A suposta "peosia", talvez salpique uma ou outra vez o painel, mas quem me conhece sabe, que ela só acontece em mim, ou por amor ou por desespero profundo. A ver vamos o que nos e vos aguarda.

Sejam bem vindos ao Cem Truques, Nu Azul.


"Vamos a Votos!"

A partir das 3 da madrugada já ninguém consegue dormir direito, pois amanhã é dia de votos. Sabem como é. As noites que antecedem os dias especiais das nossas vidas costumam ser um autêntico desastre para muitos de nós, facto que se agrava consideravelmente se atendermos a que, amanhã, a Senhora Dona Ercilía Vale-Tudo-Quanto-Pesa vai cumprir com o seu dever de pôr o papelinho na urna de ferro preta. Ela adora ir botar a cruz nos impressos de papel grosso de que são feitos os boletins. Minha nossa senhora!, o que ela treme só de pensar que amanhã vai voltar a pegar na esferográfica da Bic, daquelas de escrita fina, e com muito jeitinho tentar desenhar a cruz (benza-a deus!) no quadradinho em branco...
Sentir o arranhar da Bic no papel dá-lhe uma espécie de calafrios pela espinha acima, que ela na verdade nem sequer sabe muito bem explicar. O certo é, que é das experiências, que na sua idade e com o que já viveu, não consegue assemelhar a nada que, da mesma maneira, lhe retire o soninho precioso.
Por falar em soninho, então não querem lá ver que o rapazote pra’i com um metro e um escadote de altura, não consegue aguentar acordado para além das 4 da madrugada. É verdade, é como vos digo. Vi-o eu com estes dois que a terra há-de comer, se deus nosso senhor quiser (e se não quiser, come na mesma que isto não é o da Joana, era o que faltava!), adormecer no sofá da sala, mesmo com a televisão em altos berros a contar histórias da carochinha. Lindas histórias por sinal, ah sim senhora. Fui até eu quem ajudou a contar algumas, por isso sei que valiam a pena. Mas, coitado, o tipo tava cansado e além do mais, tem a mania que não gosta de arroz de feijão frade e de maneira que, mal se viu aconchegado, toca a ressonar que se faz tarde!

Bem, mas voltemos á Dona Ercília, coitadinha, que essa sim é digna dos nossos cuidados. Pois ela roda e rebola, que o termo é mesmo esse (é o maldito do organismo que não metaboliza as proteínas, e faz com que a dita senhora, esteja sempre a insuflar), e vê-se grega para xonar. O que lhe vale é que é só hoje por amanhã ser dia de votos, e por a malvada da senhora ter um fetiche qualquer com as canetas da Bic, que é obra. É aquele arranhar, aquele toque suave no plástico duro e levemente estriado, é o escorrer da tinta azul (que agora, a bem dizer o azul já nem se usa. Agora é o preto pra tudo, é nas finanças, no notário, nos correios e nas avenidas novas...), e sobretudo, a dificuldade de decidir onde por a dita da cruz. Essa sim é a cruz da nossa vida, e o maior desafio que se coloca à Dona Ercília.
É só aqui que ela esbarra, porque de resto, a vida vai-lhe bem. Tem no seu Cardoso, o homem que dorme com ela, um grande amigo, e mais do que isso, um enorme amparo para não cair da cama abaixo. Se não fosse ele estar ali encostadinho, áquele cantinho que resta de cama (já de si grande, de dois metros para mais) nestas noites de insónia, vinha a vizinha do terceiro andar saber o que se passou, de certezinha absoluta, tal era o estrondo que a queda de sua Senhoria, a Dama da Marmiterie da Quinta dos Rouxinóis daria no seu soalho de madeira ainda novo, portanto, não abafador de todos os ruídos.

- Valha-te deus, mulher do diabo! Deixa-te estar quietinha que me dás cabo das costas!
- Deixa-te de lamúrias que eu nem te toquei.
- Ah pois não! Tou aqui que nem posso, a ver se me aguento sem cair da cama abaixo, com uma mama tua enfiada na costela número 3 do lado esquerdo, logo logo a seguir à clavícula que daqui a nada, tá fora do sítio, desnocada. Tou pra ver depois, quem é que me leva ao hospital, tou tou...
- Ai credo, homem! Não podes ser um cadinho menos bruto comigo, não? Se fosse alguma brasileira, até de dava jeito a mama, mas como sou eu, a tua Escília, a coisa já é aos coices não é? Eu pra qui, coitada, sem conseguir descansar, e amanhã com decisões tão importantes para tomar... Valha-me deus a mim, pobre mulher ...

- Olha sabes o que te digo? Vou mas é dormir pá sala, porque amanhã quero ir à pesca e não me posso levantar tarde, quando não, o peixe dá de frosques e depois tenho que o ir comprar à praça ao preço do oiro que tu bem sabes.
-Oh Cardoso, não vás embora! Oh homem, tu não me percebes homem. Ajuda-me antes a por a mama para cá e diz-me onde é que achas que eu devo botar a cruz anda lá.
- Ah, eu logo vi que tu querias era festa. Eu até já tava a estranhar! Tu tens andado tão calminha, a dormir tão bem, até tens ressonado que eu bem ouço (nessas noites, quem na dorme nadinha sou eu!). Queres atão que eu te mande a mama pra’i? Pera ai, que eu já lá vou. Agora tenho de ir ali à casa de banho, que tenho o material a pedir pa despejar. Já sabes como isto é. O médico já me disse para não esperar. Para quando tiver vontade ir logo, senão ainda é pior.
- Vá lá, atão! Vai lá, que hei-de eu fazer! Deixa tar que eu arrecado a mama...! (Oh senhores, mas onde é que eu hei-de botar o raio da cruz?!!)

(continua)



Até breve. Azul.

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